Profissionais monetizam narrativa antivacina sobre suposta 'síndrome pós-spike', sem comprovação científica ou respaldo de autoridades.

Profissionais monetizam narrativa antivacina sobre suposta ‘síndrome pós-spike’, sem comprovação científica ou respaldo de autoridades.

Profissionais que se posicionaram contra a vacinação contra a covid-19 no Brasil têm divulgado nas redes sociais a existência de uma suposta “síndrome pós-spike” atribuída às vacinas de mRNA. A narrativa vem sendo usada para oferecer consultas particulares, cursos online e produtos suplementares.

De acordo com análise da redação do Noticioso360, documentamos padrão recorrente: postagens virais com depoimentos pessoais, páginas de vendas com protocolos pagos e orientações para interromper ou evitar vacinas. A apuração compilou publicações em Instagram, Telegram e YouTube, além de registros públicos e anúncios comerciais.

O que dizem os divulgadores

Os conteúdos analisados apresentam relatos individuais de sintomas que teriam surgido após a vacinação. Frequentemente, esses relatos são acompanhados por termos técnicos e imagens de exames, sem, porém, a apresentação de estudos controlados ou revisão por pares que sustentem uma nova entidade clínica.

Além disso, há promoção recorrente de suplementos, fórmulas “ortomoleculares” e terapias alternativas como parte de protocolos pagos. Em alguns casos, os autores afirmam oferecer “acompanhamento especializado” por meio de consultas online por valores que variam conforme o pacote.

O estado da evidência científica

Pesquisadores consultados pela reportagem e revisões da literatura indicam que não existe, até o momento, consenso científico que confirme a existência de uma síndrome sistêmica nova causada por vacinas de mRNA com as características divulgadas nas redes.

Estudos controlados, revisão por pares e monitoramento de farmacovigilância são os métodos requeridos para estabelecer causalidade entre um medicamento ou vacina e um conjunto de sintomas. Como resumiu um especialista em farmacovigilância ouvido pela reportagem: “Depoimentos e séries de casos não são suficientes para estabelecer causalidade”.

Agências reguladoras e dados públicos

Agências como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e órgãos internacionais mantêm sistemas de acompanhamento de eventos adversos e publicam informações sobre segurança vacinal. Esses bancos de dados registram sinais que precisam de investigação, mas episódios isolados ou séries de casos sem controle não comprovam uma relação causal.

Revisões sistemáticas e estudos de segurança continuam apontando que os benefícios das vacinas mRNA contra a covid-19 superam os riscos identificados. Eventos adversos graves são raros e, quando ocorre suspeita, são objeto de inquérito e análise técnica.

Estratégias de comunicação e monetização

O padrão de atuação observado se alinha a estratégias documentadas no corpus de estudos sobre desinformação: uso de autoridade simbólica (médicos em jalecos, termos técnicos), apelo a relatos emocionais e oferta de soluções exclusivas pagas.

Fontes públicas e especialistas ressaltam que depoimentos anedóticos podem ser poderosos do ponto de vista persuasivo, mas não substituem estudos epidemiológicos que controlem fatores de confusão, avaliem a ocorrência em populações comparadas e reproduzam resultados.

Consequências práticas

Na prática, o consumo desse tipo de conteúdo pode levar pessoas a interromper tratamentos, recusar vacinas ou buscar procedimentos não comprovados. A reportagem encontrou relatos de indivíduos que procuraram atendimento após seguir orientações de influenciadores, e também referências a denúncias encaminhadas a conselhos de medicina.

Em alguns estados, conselhos regionais abriram processos disciplinares contra profissionais que teriam recomendado tratamentos sem comprovação ou desencorajado a vacinação. Nem todos os procedimentos foram tornados públicos, e muitos seguem em investigação.

Responsabilidade e regulação

Há implicações éticas e legais quando profissionais de saúde monetizam recomendações que não estão respaldadas por evidência. Conselhos de medicina e autoridades sanitárias podem agir por quebra de conduta, publicidade enganosa ou ato antiético que coloque a saúde pública em risco.

Especialistas consultados pela reportagem também sugerem maior fiscalização sobre anúncios e transparência em plataformas digitais que hospedam esse tipo de conteúdo, além de ações fiscais sobre a monetização de cursos e vendas de produtos por profissionais da saúde.

Como a redação apurou

A apuração do Noticioso360 cruzou posts públicos, páginas de venda, vídeos e registros oficiais. Sempre que possível, a equipe solicitou posicionamento a profissionais e órgãos citados nas publicações. Quando não houve resposta, isso foi registrado no dossiê da reportagem.

Foram analisados padrões de linguagem, evidências apresentadas (ou a ausência delas) e formas de oferta comercial. A redação buscou manter distância de narrativas conspiratórias e focou em documentação verificável.

Recomendações e próximos passos

Especialistas consultados recomendam: ampliação de estudos de farmacovigilância com séries temporais robustas; ações disciplinares quando comprovada desinformação por profissionais; fiscalização sobre publicidade de tratamentos; e campanhas públicas que expliquem a diferença entre relatos anedóticos e evidência científica.

Também é sugerida a abertura de investigações fiscais sobre monetização e a priorização de comunicação clara das agências de saúde para reduzir o alcance de informações potencialmente danosas.

Fechamento e projeção

Até o momento desta apuração, não há comprovação científica robusta de que exista uma “síndrome pós-spike” causada por vacinas de mRNA. A circulação desse discurso, porém, já gerou um mercado e pode influenciar decisões individuais de saúde.

Analistas apontam que o movimento pode ampliar mecanismos de desconfiança nas próximas campanhas de imunização e, por isso, iniciativas de vigilância, educação pública e regulação são necessárias para mitigar riscos.

Fontes

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Conteúdo verificado e editado pela Redação do Noticioso360, com base em fontes jornalísticas verificadas.

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