Black Friday e o risco de oniomania

Promoções podem disparar compras impulsivas; especialistas alertam para endividamento e prevenção necessária.

Black Friday e o risco de compras compulsivas

A Black Friday concentra ofertas e promoções em um curto período — combinação que pode funcionar como gatilho para impulsos de compra repetitivos. Pacientes e atendimentos em linhas de apoio relatam aumento de episódios em que o impulso prevalece sobre o planejamento, seguido por arrependimento e problemas financeiros.

Em relatos clínicos e dados institucionais, a sequência costuma ser parecida: desejo intenso de adquirir um produto, compra imediata e depois percepção tardia do prejuízo. Essa dinâmica tem mobilizado profissionais da saúde mental e órgãos de defesa do consumidor em torno de medidas preventivas.

De acordo com dados compilados pelo Noticioso360, cruzados com informações do G1 e da BBC Brasil, há predominância do sexo feminino entre os casos notificados, além de frequente associação com endividamento por uso de crédito rotativo e parcelamentos sem planejamento.

Como a Black Friday age como gatilho

Ofertas com tempo limitado, mecanismos de urgência (“estoque baixo”, “tempo reduzido”) e campanhas de remarketing são técnicas que aumentam o estado emocional do consumidor. Especialistas ouvidos por veículos nacionais destacam que esses gatilhos podem reduzir a capacidade de autocontrole, especialmente em pessoas com vulnerabilidade a comportamentos impulsivos.

Além disso, a facilidade de compra online — com dados de pagamento salvos e parcelamentos automáticos — torna o ato mais rápido e menos sujeito a reflexão. Plataformas que exibem “parcelamento sem juros” também contribuem para uma percepção errônea de segurança financeira.

Perfil e diferenças por gênero

Estudos qualitativos e levantamentos jornalísticos indicam maior busca por ajuda entre mulheres, o que se reflete em maior número de relatos. Profissionais apontam fatores socioculturais e papéis historicamente associados ao consumo como hipóteses para essa diferença.

Por outro lado, especialistas alertam para subnotificação entre homens, que tendem a procurar menos serviços de saúde mental. O consenso é que o transtorno atinge ambos os sexos, mas se manifesta e é reportado de formas distintas.

Consequências econômicas e sociais

O impacto mais imediato observado é o aumento do endividamento. Compras repetidas e financiamento por meio do crédito rotativo, empréstimos pessoais e parcelamentos levam consumidores à perda de controle das finanças domésticas.

Organizações de defesa do consumidor e pesquisadores recomendam transparência nas campanhas promocionais e medidas de proteção, como alertas sobre compras frequentes e limites automáticos configuráveis por usuários. A falta dessas salvaguardas amplia o risco para públicos mais vulneráveis.

Abordagens clínicas e políticas públicas

Clinicamente, a terapia cognitivo‑comportamental (TCC) voltada para controle de impulsos tem mostrado eficácia para reduzir episódios de compra compulsiva. Avaliações para comorbidades, como depressão e transtornos de ansiedade, são fundamentais para um tratamento integrado.

Há debate na comunidade científica sobre a classificação diagnóstica do transtorno de compra compulsiva. O tema não figura como categoria independente no DSM‑5, o que influencia acesso a tratamentos específicos e a formulação de políticas públicas direcionadas.

Integração entre saúde e orientação financeira

Programas que reúnem serviços de saúde mental e centros de aconselhamento financeiro indicam resultados promissores. Estratégias que combinam manejo de gatilhos, planejamento orçamentário e acompanhamento psicoterápico podem reduzir reincidência e mitigar prejuízos.

Recomendações práticas para consumidores e plataformas

Para consumidores: estabelecer orçamento prévio, adotar listas de compra, evitar decisões sob forte carga emocional e desconfiar de ofertas que se apoiem apenas no parcelamento. Para instituições financeiras e lojas: implementar alertas para padrões de gasto, oferecer opções de parcelamento responsável e transparência nas informações de custo total.

Medidas simples, como períodos de reflexão antes da confirmação da compra ou limites diários configuráveis, podem reduzir a participação de impulsos no processo decisório.

Conclusão e projeção

Em síntese, a Black Friday pode amplificar um padrão comportamental com consequências financeiras importantes. A articulação entre serviços de saúde mental, pesquisa acadêmica e políticas de consumo é essencial para identificação precoce e tratamento eficaz.

Analistas e especialistas apontam que, se não houver avanço em prevenção e regulação de práticas comerciais, o movimento de promoções intensas pode ampliar a demanda por serviços de apoio e reconfigurar o perfil do endividamento no país nos próximos anos.

Fontes

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