Tratado busca ampliar cooperação contra crimes digitais
Mais de 60 países, incluindo o Brasil, assinaram um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) voltado ao enfrentamento de crimes digitais transnacionais. O texto prevê mecanismos de investigação conjunta, trocas de inteligência e assistência jurídica mútua entre Estados signatários.
O acordo, anunciado após rodadas de negociação multilaterais, chega num momento de aumento de ataques cibernéticos, fraudes financeiras e exploração sexual infantil online. Autoridades ressaltam que instrumentos comuns são necessários para rastrear evidências que cruzam fronteiras e para responsabilizar autores que operam em jurisdições diferentes.
Segundo análise da redação do Noticioso360, com base em reportagens da Reuters e da BBC Brasil, o texto também traz cláusulas sobre preservação de evidências digitais e definição de responsabilidades de provedores de serviços no apoio às investigações.
O que prevê o tratado
Em linhas gerais, o tratado estabelece procedimentos para pedidos formais de cooperação internacional, criação de canais de comunicação entre autoridades policiais e judiciárias e padrões mínimos para preservação de dados digitais. O objetivo declarado é reduzir entraves legais e técnicos que hoje atrasam ou inviabilizam investigações.
Entre os mecanismos previstos estão: solicitações de assistência jurídica mútua mais ágeis; equipes conjuntas de investigação; intercâmbio de inteligência sob protocolos acordados; e obrigações para provedores de armazenar logs e colaborar com solicitações legais, quando estas forem devidamente fundamentadas.
Proteção de evidências e papel de provedores
Delegações presentes nas negociações informaram que o texto determina procedimentos para preservação de evidências digitais, como backups forenses e cadeias de custódia. Também define responsabilidades para provedores de serviços — desde operadores de nuvem até plataformas de comunicação — no apoio a investigações.
Fontes oficiais, contudo, reconheceram que as regras são gerais e demandarão protocolos operacionais posteriores para detalhar prazos, padrões técnicos e salvaguardas processuais.
Críticas de organizações de direitos digitais
Por outro lado, organizações não governamentais e entidades de direitos humanos manifestaram preocupações sobre o texto. As críticas centram-se na falta de salvaguardas explícitas para a privacidade, em definições amplas de conteúdo ilícito e no potencial de uso indevido das rotas criadas para censura ou vigilância em massa.
Ativistas apontam que, sem critérios claros e controles judiciais robustos, pedidos de interceptação e compartilhamento de dados podem ser ampliados de maneira arbitrária por Estados com histórico de violações de direitos civis.
“O risco é que instrumentos desenhados para combater criminosos sirvam como ferramenta de repressão”, disse um representante de uma ONG internacional que acompanha o processo. A entidade pediu a inclusão de cláusulas de proteção de dados, revisão periódica das medidas e mecanismos de supervisão independente.
Debates nas negociações
As divergências entre governos e sociedade civil refletiram-se em votos, emendas propostas e declarações públicas durante as sessões. Estados favoráveis à versão assinada defenderam a necessidade urgente de ferramentas internacionais para enfrentar crimes cada vez mais sofisticados e globalizados.
Já países e observadores que pediram cautela defendem que quaisquer mecanismos de cooperação tenham salvaguardas que impeçam violações de direitos fundamentais, imponham limites claros à coleta de dados e exijam controle judicial efetivo.
Posição do Brasil
Representantes do governo brasileiro destacaram que a assinatura demonstra compromisso com a cooperação internacional e com a proteção de vítimas de crimes digitais. Autoridades afirmaram que o tratado poderá acelerar investigações que hoje enfrentam barreiras legais ou técnicas.
Ativistas e especialistas brasileiros, porém, solicitaram transparência sobre pedidos de dados e critérios adotados por autoridades nacionais ao acionar os mecanismos previstos pelo acordo. Pedem a definição de regras claras para salvaguardar dados de usuários e evitar abusos.
Desafios de implementação
Especialistas consultados ressaltam que a eficácia do tratado dependerá da ratificação doméstica, da harmonização de normas entre países e da elaboração de protocolos operacionais que detalhem práticas investigativas.
Além disso, há desafios técnicos: interoperabilidade de sistemas forenses, requisitos para preservação de logs e capacidade institucional de países com recursos limitados. Sem investimento em capacitação e infraestrutura, o instrumento pode ter aplicação desigual.
Aspectos jurídicos e supervisão
Outro ponto central é a necessidade de mecanismos de supervisão e de controle judicial. Leis nacionais variam amplamente quanto a permissões de interceptação, retenção de dados e confidencialidade de comunicações. Harmonizar essas diferenças sem reduzir garantias é um exercício complexo.
Para organizações de defesa de direitos, a inclusão de mecanismos de revisão independente e de transparência sobre pedidos e ordens judiciais será vital para legitimar o acordo.
Próximos passos
Os signatários ainda têm pela frente a ratificação interna pelos parlamentos de cada país e a negociação de protocolos operacionais entre autoridades policiais e judiciárias. Revisões futuras do texto podem ser necessárias para incorporar salvaguardas adicionais sugeridas por sociedade civil e especialistas.
Analistas esperam que, caso avance, o tratado leve a maior cooperação em casos emblemáticos de cibercrime, ao mesmo tempo em que fomentará debates sobre equilíbrio entre segurança e direitos digitais.
Fontes
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Conteúdo verificado e editado pela Redação do Noticioso360, com base em fontes jornalísticas verificadas.
Perspectiva: Analistas apontam que o movimento pode redefinir o cenário das investigações digitais nos próximos meses.

