Estudo mostra padrão de retorno de peso
Um levantamento com dados de 1,2 milhão de adultos nos Estados Unidos aponta que mais da metade das pessoas que interrompem tratamentos com medicamentos à base de GLP‑1 recupera parte do peso perdido. A análise acompanhou trajetórias de perda e ganho de peso desde o início do uso até meses após a suspensão.
Segundo análise da redação do Noticioso360, com base em reportagens da Reuters e da BBC Brasil e nos dados do banco Market Clarity da Optum, o padrão observado é consistente: reduções substanciais durante o tratamento, seguidas por retorno parcial do peso em muitos casos.
Como foi o levantamento
O estudo utilizou registros eletrônicos de saúde e prescrições entre janeiro de 2010 e junho de 2024. Foram avaliadas trajetórias individuais de peso antes, durante e após o uso de agonistas do receptor GLP‑1, como a semaglutida (vendida como Ozempic e Wegovy).
Pesquisadores verificaram a magnitude da perda durante o tratamento e o ritmo de recuperação após a interrupção. Em boa parte das pessoas, o ganho de volta ocorreu nos primeiros meses após cessar o medicamento — um sinal de efeitos compensatórios metabólicos e comportamentais.
Variação entre pacientes
A recuperação não é uniforme. Fatores como duração do tratamento, presença de diabetes tipo 2, acompanhamento multidisciplinar (nutrição, exercício, suporte psicológico) e mudanças duradouras no comportamento alimentar explicam parte da variabilidade entre indivíduos.
Pacientes que mantiveram intervenções complementares apresentaram, em média, ganho de retorno menor do que aqueles que interromperam o acompanhamento. Isso sugere que o medicamento age como uma ferramenta potente, mas não resolve isoladamente os determinantes comportamentais da obesidade.
Por que o peso volta?
Especialistas consultados nas reportagens citadas apontam mecanismos fisiológicos e comportamentais que favorecem a retomada do peso. Entre eles estão alterações no apetite, na regulação energética e em sinais hormonais que estimulam a ingestão e reduzem o gasto energético quando o fármaco é suspenso.
“É esperado que, ao remover um agente que altera a sensação de saciedade e o metabolismo, o corpo busque o equilíbrio anterior”, disse um pesquisador à reportagem. A intensidade desse efeito varia conforme o histórico metabólico e o ambiente alimentar do paciente.
Implicações clínicas
Do ponto de vista médico, o achado levanta a necessidade de repensar esquemas de tratamento. Muitos especialistas defendem considerar a obesidade como condição crônica que pode requerer estratégias prolongadas e planos de transição para suspensão segura do medicamento.
Outro ponto destacado é que a recuperação parcial do peso não anula benefícios alcançados durante o uso do GLP‑1, como melhora da glicemia, pressão arterial e perfis lipídicos. Avaliações de risco‑benefício devem, portanto, incorporar ganhos metabólicos além do peso absoluto.
Riscos e custos
Há também preocupações sobre medicalização indefinida e sustentabilidade financeira. O custo elevado dos tratamentos pode limitar acesso e tornar políticas de cobertura insustentáveis sem critérios claros e programas de acompanhamento que visem manutenção dos resultados.
Reportagens internacionais alertam ainda para o uso estético ou recreativo dos fármacos, o que aumenta a pressão sobre sistemas de saúde e exige orientações públicas para prescrições responsáveis.
O que pacientes e médicos devem considerar
Para pacientes que iniciam ou suspenderam terapia com GLP‑1, a recomendação prática é elaborar um plano de transição. Isso inclui monitoramento próximo, intervenções comportamentais intensificadas (nutrição, atividade física), suporte psicológico e, quando indicado, alternativas terapêuticas.
Médicos devem individualizar decisões com base em objetivos clínicos, efeitos colaterais, expectativas do paciente e recursos disponíveis. Documentos de consensos e diretrizes clínicas podem evoluir nos próximos anos para incorporar estratégias de manutenção pós‑tratamento.
Limitações do estudo
É importante lembrar que o levantamento é observacional e usa bases administrativas. Esses desenhos permitem amostras grandes e sinais populacionais, mas têm limitações: vieses de seleção, erros de classificação e ausência de variáveis comportamentais e socioeconômicas detalhadas.
Assim, os números absolutos devem ser interpretados com cautela ao serem extrapolados para outras populações ou usados para previsões individuais.
Conclusões práticas
Em suma, a evidência até o momento indica tendência de recuperação de peso por uma parcela majoritária dos pacientes que interrompem terapias com GLP‑1. O resultado reforça a visão de que o enfrentamento da obesidade exige estratégias contínuas e integradas, não apenas administração temporal de fármacos.
Para reduzir a dependência exclusiva do medicamento, especialistas e gestores recomendam políticas de saúde que priorizem programas integrados, combinando acesso a tratamentos farmacológicos com apoio nutricional, atividade física e saúde mental.

