Cartunista Laerte teve diagnóstico e cirurgia; especialistas explicam riscos e rastreamento para mulheres trans.

Cartunista Laerte teve diagnóstico e cirurgia; especialistas explicam riscos e rastreamento para mulheres trans.

Laerte e o debate sobre câncer de próstata em mulheres trans

A cartunista Laerte Coutinho anunciou em 2023 que foi diagnosticada com câncer de próstata e submetida à cirurgia de remoção do órgão. O caso reacende um debate clínico e social sobre risco, rastreamento e acesso a serviços de saúde para pessoas trans.

Segundo análise da redação do Noticioso360, que cruzou reportagens e posicionamentos médicos divulgados na imprensa, a detecção partiu de uma alteração no PSA (antígeno prostático específico) identificada em exames de rotina. Exames complementares confirmaram a presença de neoplasia e culminaram na prostatectomia.

Por que mulheres trans ainda podem ter risco

A próstata é uma glândula presente em pessoas designadas do sexo masculino ao nascer. Ela não é, em regra, removida em cirurgias de afirmação de gênero, como a vaginoplastia, que costuma preservar a estrutura prostática. Assim, pessoas trans mulheres que mantiveram a próstata permanecem suscetíveis a doenças que afetem o órgão, incluindo o câncer.

Além disso, a terapia hormonal com estrogênios e antiandrógenos altera o perfil hormonal e os marcadores laboratoriais. O uso prolongado de bloqueadores hormonais tende a reduzir o volume prostático e os valores de PSA, o que pode mascarar sinais que normalmente orientam a investigação precoce.

Implicações para o rastreamento

As recomendações formais sobre rastreamento de câncer de próstata para pessoas trans são ainda incompletas. Especialistas consultados em reportagens públicas e revisões médicas defendem avaliação individualizada, considerando idade, histórico familiar, duração e tipo de terapia hormonal e presença de sintomas urinários.

Em pacientes com PSA alterado ou sintomas — como dificuldade miccional, dor pélvica persistente ou hematúria —, a investigação costuma incluir ultrassonografia, ressonância magnética multiparamétrica e, quando indicada, biópsia prostática para exame anatomopatológico.

Desafios clínicos e diagnósticos

O efeito da terapia hormonal no PSA dificulta a interpretação dos resultados. Em alguns casos, níveis baixos de PSA relacionados ao tratamento podem atrasar o reconhecimento de lesões significativas. Por outro lado, a redução do volume prostático pode alterar o comportamento do órgão e os critérios usados em populações cisgênero.

Urologistas e endocrinologistas ressaltam que a decisão sobre iniciar rastreamento ativo, como exames periódicos de PSA, deve ser tomada em consulta compartilhada, com informação clara sobre riscos e benefícios adaptados a cada pessoa.

Barreiras de acesso e impacto social

A cobertura do caso de Laerte também destacou dimensões sociais relevantes. Barreiras de acesso a serviços de saúde, preconceito e lacunas na formação médica sobre populações trans podem contribuir para atrasos no diagnóstico.

Relatos compilados em reportagens mostram que muitas pessoas trans adiam exames por temor de discriminação. A comunicação pública e a sensibilidade cultural nas unidades de saúde aparecem, portanto, como fatores centrais para a detecção precoce e para o acompanhamento adequado.

O que orientam os especialistas

De modo prático, profissionais recomendam que pessoas trans que mantêm a próstata conversem com seus médicos sobre a necessidade de rastreamento individualizado. Entre os critérios considerados estão a idade, antecedentes familiares de câncer de próstata, tempo e tipo de terapia hormonal e sintomas urológicos.

Em casos de PSA alterado ou presença de sinais urinários, a conduta inclui a realização de exames de imagem — como ultrassonografia transretal e ressonância multiparamétrica — e, na sequência, biópsia prostática quando indicada. O exame anatomopatológico orienta o estadiamento e as opções de tratamento.

Rastreio, tratamento e acompanhamento

O tratamento varia conforme o estágio do tumor e as condições clínicas do paciente. A prostatectomia, realizada no caso de Laerte, é uma das opções quando indicada. Outros tratamentos incluem radioterapia, terapia hormonal e, em cenários selecionados, vigilância ativa.

O acompanhamento pós-operatório exige monitoramento de PSA e avaliação de possíveis efeitos adversos. Equipes multidisciplinares — com urologia, endocrinologia e atenção psicossocial — são indicadas para garantir cuidado integral.

Implicações para políticas de saúde

O episódio tem importância simbólica e prática. Ao trazer visibilidade a um tema pouco discutido, reforça a necessidade de protocolos clínicos que contemplem a diversidade de corpos e a elaboração de diretrizes específicas para pessoas trans.

Especialistas ouvidos em reportagens defendem mais pesquisas sobre incidência do câncer de próstata em populações trans, o impacto de terapias hormonais no risco e a construção de recomendações de rastreamento baseadas em evidências.

Recomendações para leitores

Pessoas trans que mantêm a próstata devem dialogar abertamente com profissionais de saúde sobre a realização de exames e estar atentas a sinais de alerta: dor pélvica persistente, alteração miccional, sangue na urina ou mudança súbita em exames laboratoriais exigem avaliação imediata.

Além disso, medidas para reduzir barreiras de acesso — como capacitação de equipes, linguagem acolhedora e garantia de privacidade — podem aumentar a adesão ao rastreamento e diminuir atrasos no diagnóstico.

Fontes

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