Imagens que poderiam ajudar investigação permanecem retidas por comerciantes
Um dia após a morte de Alice Martins Alves, de 33 anos, em decorrência de uma agressão na região da Savassi, em Belo Horizonte, o pai da vítima relatou dificuldades para obter imagens das câmeras de segurança dos estabelecimentos próximos ao bar Rei do Pastel. A demora no compartilhamento das gravações atrasou a identificação de possíveis autores e a reconstrução dos últimos momentos antes do crime.
A apuração do Noticioso360, com base em reportagens e informações oficiais, mostra resistência variada entre comerciantes em ceder material de vigilância à polícia e à família. Em alguns casos, houve ausência de arquivo; em outros, receio de exposição e dúvidas sobre quem tem autoridade para liberar o acesso.
O que as autoridades dizem
Fontes ligadas à investigação informaram ao Noticioso360 que as equipes solicitaram formalmente gravações de pelo menos cinco estabelecimentos ao redor do local do crime. Quando não houve entrega espontânea, investigadores passaram a emitir ofícios e, em alguns casos, buscar ordens judiciais para garantir acesso a arquivos que podem ser sobrescritos automaticamente pelos sistemas locais.
“Temos prazos curtos para preservar imagens”, disse um policial envolvido nas buscas, em condição de anonimato. “Quando o registro é apagado ou sobrescrito, perdemos uma linha de prova importante.”
Motivações e entraves para a negativa
Relatos colhidos pela redação apontam três motivos recorrentes entre os comerciantes: políticas internas de retenção curta de dados, ausência de armazenamento remoto e medo de retaliação ou envolvimento em processos públicos. Alguns proprietários alegaram que os sistemas gravavam apenas por períodos limitados e que os arquivos já haviam sido apagados antes de qualquer pedido formal.
Por outro lado, proprietários e funcionários entrevistados disseram temer que a liberação das imagens leve a exposição do estabelecimento, prejuízo à reputação ou convites a represálias por frequentadores. “A gente não quer entrar em confusão”, afirmou um comerciante da Savassi, segundo fontes que conversaram com investigadores.
Parte do material foi entregue e está em análise
Nem todos os relatos são de negativa. O Noticioso360 apurou que alguns comerciantes, após contato policial e da família, colaboraram e já entregaram gravações. O material recebido está sendo periciado e cruzado com depoimentos de testemunhas para tentar identificar pessoas presentes na rua no momento da agressão.
Peritos apontam problemas técnicos em algumas gravações: qualidade reduzida, ângulos limitados e arquivos parcialmente sobrescritos. Isso dificulta a montagem cronológica dos fatos, mas especialistas forenses afirmam que, mesmo com limitações, fragmentos podem ser úteis para reconhecer trajetórias e sequências de ação.
Procedimentos legais e preservação de provas
Investigadores destacam que o acesso a imagens pode depender de quem tem autorização para liberar dados: proprietário, responsável técnico pelo sistema ou, em últimos casos, uma intimação judicial. A demora em esclarecer essa cadeia de responsabilidade contribuiu para a perda de arquivos em pelo menos algumas das lojas consultadas.
Em situações semelhantes, a prática tem sido acelerar pedidos judiciais quando há risco de descarte automático. A polícia informou que analisa medidas para recuperar arquivos perdidos por meio de perícia técnica e eventual solicitação ao provedor do sistema, quando aplicável.
Impacto local e lições práticas
Especialistas em segurança urbana consultados pelo Noticioso360 afirmam que a fragmentação de sistemas de vigilância e a ausência de padronização de políticas de retenção contribuem para fragilidades na coleta de provas em áreas de grande circulação.
“É comum ver câmeras com armazenamento local que reescrevem arquivos em poucos dias. Sem protocolos claros para preservar imagens após ocorrências graves, a investigação fica comprometida”, afirma um perito em criminalística.
Recomendações
Fontes ouvidas recomendam ações como campanhas de orientação para comerciantes sobre procedimentos legais de entrega de imagens, criação de canais oficiais de comunicação entre polícia e comerciantes e estímulo ao uso de armazenamento em nuvem com políticas mínimas de retenção para incidentes graves.
Além disso, advogados da família têm acompanhado a obtenção de provas e a Delegacia responsável permanece em contato com testemunhas e proprietários para tentar consolidar o conjunto probatório.
Próximos passos da investigação
A expectativa é de que a polícia continue a solicitar formalmente gravações e, quando necessário, recorra à Justiça para recuperação de imagens apagadas ou retidas. Perícias técnicas adicionais e depoimentos complementares também devem integrar as fases seguintes da apuração.
Ainda não há confirmação pública de prisões relacionadas à agressão. A análise do material entregue pode, no entanto, fornecer elementos para identificar suspeitos ou confirmar trajetos e horários, o que orientará medidas futuras da investigação.

