Investimento de R$ 400 milhões em banco sob investigação gera questionamentos
Um fundo gerido por um aliado político de Davi Alcolumbre fez um aporte de aproximadamente R$ 400 milhões no Banco Master, instituição que foi alvo de liquidação extrajudicial nesta semana. O investimento aparece entre os maiores da carteira previdenciária consultada, atrás apenas de aplicações de grandes entes regionais.
Segundo análise da redação do Noticioso360, com base em documentos públicos de fundos de pensão, demonstrativos contábeis e atas internas, o aporte foi realizado por um veículo ligado a um indicado do presidente do Senado. As informações cruzadas pelo portal evidenciam também a presença, nos registros do fundo, de pelo menos um irmão de Davi Alcolumbre entre os profissionais que constam em documentos oficiais.
Como ocorreu o aporte
O aporte foi autorizado após pareceres técnicos e jurídicos apresentados à diretoria do fundo, que destacaram conformidade com a política de investimentos vigente. Fontes internas relataram, entretanto, que a proposta suscitou debates acalorados no conselho, diante do risco de concentração no banco.
Em atas e e-mails consultados pela reportagem, conselheiros apontaram preocupações sobre exposição excessiva e risco de contraparte. Por outro lado, representantes do fundo e o indicado ligado a Alcolumbre afirmaram, em comunicados, que diligências foram feitas e que houve avaliação atuarial favorável.
Governança, risco e vínculo familiar
A apuração do Noticioso360 encontrou indícios de vínculo familiar entre beneficiários do fundo e figuras políticas. Especialistas ouvidos explicam que, embora laços familiares não caracterizem, por si só, ilegalidade, aumentam a percepção de conflito de interesse e exigem transparência adicional na tomada de decisão.
Fontes com acesso às discussões internas relataram pedidos para medidas de mitigação, como revisão de limites de concentração e estabelecimento de garantias adicionais. Algumas propostas não foram registradas nas versões públicas das atas, segundo as mesmas fontes.
Impacto na gestão do fundo
Executivos do fundo defenderam a adesão à praxe de mercado, argumentando que o aporte havia lastro compatível com a política de investimentos e que a alocação diminuía o impacto em carteiras com menor liquidez. Conselheiros discordaram, apontando que a governança de entidades fechadas de previdência exige um patamar mais conservador por se tratar de recursos de longo prazo.
Reação das autoridades
A liquidação do Banco Master motivou atuação do Banco Central e da Polícia Federal, com medidas administrativas e ações de investigação que culminaram em prisões vinculadas ao quadro societário da instituição, segundo reportagens e notas oficiais.
Agentes reguladores tendem a focar em práticas de governança, movimentações financeiras suspeitas e eventuais inconsistências contábeis. Especialistas ressaltam que os supervisores também observam o papel de investidores institucionais, especialmente quando há sinais de concentração de risco ou conflitos de interesse.
Posicionamentos e versões contraditórias
Em notas públicas, o fundo e o indicado responsabilizado negaram irregularidades, afirmando que todos os procedimentos de compliance e diligência foram observados. Representantes declararam que o aporte seguiu parecer jurídico e atuarial favorável e que não houve favorecimento indevido.
Por outro lado, conselheiros ouvidos pela reportagem relataram que a discussão foi mais ampla do que consta nas versões oficiais e que houve solicitações de mitigação que não prosperaram. A divergência entre as versões ilustra a tensão entre práticas comuns de mercado e critérios de prudência exigidos a entidades previdenciárias.
Transparência e exigências regulatórias
Especialistas consultados lembram que aportes de entidades fechadas de previdência devem obedecer a critérios de governança, diversificação e avaliação de risco. A expectativa regulatória é de que decisões com potencial de concentração sejam devidamente justificadas e registradas.
Além disso, a presença de vínculos familiares entre membros, beneficiários ou empregados do fundo e figuras políticas pode intensificar a fiscalização e atrair maior escrutínio por parte de auditores e do Ministério Público.
Comparativo com outros investidores
Relatórios públicos mostram que a Amprev figura entre as maiores aplicadoras no segmento e que o aporte de que trata a apuração aparece logo após o volume detido pela Rioprevidência entre investidores institucionais do banco.
Fontes indicam que, ainda que o valor não fosse o maior entre investidores institucionais, a exposição concentrada em um banco com sinais de fragilidade elevou as preocupações internas.
Documentos e evidências
A reportagem cruzou demonstrações financeiras, balanços públicos, atas de reuniões e reportagens jornalísticas para confirmar a operação e o vínculo familiar apontado. Alguns documentos obtidos são públicos; outros, como e-mails e minutas de reuniões, foram compartilhados por fontes internas que pediram anonimato.
O material indica que houve pareceres favoráveis no processo decisório, mas também registros de alertas sobre limites de concentração e solicitações de medidas mitigadoras que, segundo relatos, não foram integralmente adotadas.
O que está em aberto
A investigação oficial sobre o Banco Master segue em curso e não há, até o momento, decisão final sobre responsabilidade de investidores institucionais. Autoridades regulatórias continuam a analisar movimentações e contratos para avaliar eventuais práticas irregulares.
O Noticioso360 seguirá acompanhando o caso e publicando novos documentos à medida que forem obtidos.

