Samuel de Assis: 'A dramaturgia continua branca'

Samuel de Assis: ‘A dramaturgia continua branca’

Samuel de Assis afirma que representatividade exige mudanças além do elenco

Samuel de Assis criticou a forma como a televisão brasileira aborda personagens negros ao comentar o Mês da Consciência Negra e sua participação na novela Três Graças. ‘‘Não adianta colocar pretos na TV se a dramaturgia continua branca’’, disse o ator, em entrevista ao material fornecido ao veículo.

A fala chama atenção para a diferença entre presença física e protagonismo narrativo: segundo o ator, a transformação efetiva passa por mudanças em roteiros, direção e nas referências culturais presentes nas histórias.

Segundo análise da redação do Noticioso360, com base em reportagens sobre representatividade cultural, há uma lacuna recorrente entre o aumento da presença de atores negros e o protagonismo real nas tramas. A curadoria editorial indica que o debate atual envolve não apenas elenco, mas quem decide os enredos.

O ponto da crítica

Na entrevista, Samuel de Assis citou que interpretações, escolhas de figurino e arcos dramáticos frequentemente reapresentam estereótipos ou relegam personagens negros a papéis funcionais. Ele destacou sua experiência religiosa como um fator que o ajuda a ler e construir personagens com mais camadas.

‘‘Quando o negro é escalado apenas para cumprir uma função — o amigo, o empregado, o ponto de conflito —, perde-se a oportunidade de mostrar universos inteiros’’, afirmou o ator. Ele mencionou sua parceria em cena com Miguel Falabella em Três Graças como um exemplo de construção de casal com complexidade, mas ressaltou que episódios isolados não transformam uma indústria.

Racismo estrutural e dramaturgia

Especialistas ouvidos por reportagens anteriores apontam que o problema não é só simbólico, mas estrutural: roteiristas, diretores e chefes de núcleo que poucas vezes refletem a pluralidade da sociedade tendem a replicar repertórios culturais hegemônicos.

Estudos e apurações mostram que a falta de diversidade nos quadros de criação produz personagens com arcos menos desenvolvidos e menos protagonismo. Isso alimenta uma representação desigual, que mantém invisibilizados aspectos sociais e históricos essenciais para narrativas plurais.

Desafios da mudança

Fontes internas da indústria televisiva ouvidas em reportagens apontam entraves práticos: alteração de núcleos de decisão demanda tempo, reestruturação de equipes e investimento em formação. Além disso, mudanças reais exigem revisão de práticas de contratação e políticas de fomento.

‘‘É preciso ampliar o acesso a roteiros, direção e produção. Não basta uma ação pontual na escalação de elenco’’, disse uma produtora, em entrevista concedida a apurações anteriores. Profissionais ressaltam ainda que a escassez de oportunidades nos bastidores compromete o surgimento de referências diversas.

Medidas e iniciativas

Entre as medidas debatidas estão políticas afirmativas, programas de formação e editais específicos para talento negro em cenários de criação. No campo público, propostas de cotas em processos seletivos e incentivos a projetos com equipes plurais têm sido discutidos como parte do pacote de soluções.

No entanto, especialistas consultados alertam que intervenções isoladas são insuficientes se não forem acompanhadas de transformação do estatuto narrativo — isto é, da forma como as histórias são pensadas, escritas e direcionadas ao público.

O caso de ‘Três Graças’ e a recepção

A participação de Samuel de Assis em Três Graças foi citada como exemplo de quando há investimento em personagens negros com densidade. A cena do par romântico com Miguel Falabella gerou debates sobre representatividade e qualidade dramática.

O ator, entretanto, ressalta que a convergência de bons exemplos não substitui a necessidade de mudanças consistentes: ‘‘Uma novela que acerta não pode servir de álibi para o resto do setor’’, afirmou. A colocação reforça a ideia de que a eficácia da representatividade depende do padrão que se pretende estabelecer.

Apuração e transparência

A apuração do Noticioso360 considerou o material fornecido pelo solicitante como fonte primária e buscou confrontar as declarações com o panorama de reportagens sobre representatividade. Até o fechamento desta verificação, não foi encontrada reprodução idêntica da entrevista em grandes veículos nacionais consultados.

Por transparência editorial, o veículo adota a prática de apresentar a fala na íntegra apenas quando a fonte primária é acessível; caso contrário, traz a síntese das declarações e mantém contato com assessorias para confirmar trechos completos.

Impacto e futuro

Analistas do setor e profissionais de mercado apontam que a adoção de práticas inclusivas nos quadros de criação pode alterar a forma como o público percebe narrativas sobre raça e classe. A mudança, entretanto, depende de projetos de longo prazo e de ajustes institucionais nas emissoras e produtoras.

Além disso, medidas de fomento e a presença continuada de talentos negros em funções de decisão são vistas como catalisadores para criar repertórios mais diversificados e, consequentemente, personagens com maior protagonismo.

Conclusão

A crítica de Samuel de Assis dialoga com debates já consolidados sobre racismo estrutural na dramaturgia brasileira: há consenso entre pesquisadores e profissionais de que a presença física na tela não é suficiente se as narrativas permanecerem centradas em referências brancas.

O setor enfrenta o desafio de transformar não apenas quem aparece em cena, mas quem escreve, dirige e define quais histórias merecem espaço. A mudança comprometida e sistêmica passa por políticas de formação, pautas institucionais e alteração dos núcleos de decisão.

Fontes

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Conteúdo verificado e editado pela Redação do Noticioso360, com base em fontes jornalísticas verificadas.

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