Vaqueirinho: internação determinada um mês antes

Internação judicial não cumprida; falhas na segurança do parque e quadro psiquiátrico contribuíram.

Decisão judicial e tragédia no Parque da Bica

Um laudo anexado aos autos judiciais aponta que o jovem identificado como Gerson de Melo Machado, conhecido localmente como “Vaqueirinho”, foi diagnosticado com esquizofrenia e teve medida de internação civil determinada pela Justiça aproximadamente um mês antes do incidente no Parque da Bica, em João Pessoa.

Segundo os documentos recebidos pela redação, a decisão judicial previa tratamento em ambiente adequado diante de riscos associados ao quadro psiquiátrico. A intimação para cumprimento da medida, porém, não foi efetivada: oficiais responsáveis não localizaram o jovem para entregar a determinação.

Apuração e curadoria

De acordo com a apuração do material fornecido à reportagem, e segundo análise da redação do Noticioso360, a sucessão de eventos que resultou na morte do jovem envolve fatores administrativos, clínicos e estruturais.

Relatos e documentos compilados pela equipe indicam que, dias após a ordem de internação não ter sido cumprida, Gerson escalou uma parede e entrou no recinto destinado a felinos no parque municipal. Lá, foi atacado por uma leoa e não resistiu aos ferimentos.

Quadro clínico e justificativa para internação

O laudo psiquiátrico juntado aos autos descreve sintomas compatíveis com esquizofrenia, como delírios interpretativos e alucinações. A perícia que assina o documento argumenta que os sintomas indicavam risco para o próprio paciente e para terceiros, fundamentando a solicitação de internação civil.

Nos documentos disponibilizados à reportagem não há indicação explícita de que tenham sido tentadas, antes da medida judicial, alternativas como acompanhamento ambulatorial intensivo, tratamento domiciliar com equipe de referência ou medidas protetivas substitutivas.

Cumprimento da ordem judicial

A reportagem apurou que os oficiais responsáveis pela intimação se deslocaram ao endereço registrado nos autos, mas não localizaram o jovem. A falta de efetivação de intimações em processos envolvendo pessoas em sofrimento mental é problema já reconhecido por especialistas, que apontam dificuldades na comunicação entre serviços de saúde, família e o Judiciário.

Fontes consultadas no material recebido sugerem que a moradia de Gerson e sua rotina tornavam a localização complexa, o que pode ter contribuído para a não realização da medida no prazo previsto pela decisão judicial.

Segurança do Parque da Bica

Testemunhas que trabalharam e frequentavam o parque disseram, no material recebido, que o acesso ao setor de felinos não é de fácil acesso ao público, o que levanta dúvidas sobre a integridade das cercas, vedações e procedimentos de fiscalização.

Vizinhos e visitadores apontaram possíveis falhas de manutenção e ausência de barreiras adicionais que impeçam a aproximação de pessoas às instalações dos animais. Esses relatos aparecem em paralelo às informações constantes nos autos, e ambas as linhas de investigação — judicial e estrutural — são consideradas na apuração.

Implicações e responsabilidades

O conjunto de documentos e depoimentos sugere que a tragédia foi resultado de uma combinação de fatores: um quadro psiquiátrico grave que motivou decisão de internação, a não efetivação da intimação e vulnerabilidades nas estruturas de contenção do parque.

Especialistas em saúde mental consultados no material destacam que, em casos de risco, a coordenação entre rede de atenção psicossocial, órgãos judiciais e familiares é essencial para evitar desfechos graves. Por outro lado, técnicos em gestão de parques enfatizam a necessidade de manutenção contínua e inspeções que garantam a segurança em áreas com animais potencialmente perigosos.

O que dizem os documentos

Os autos judiciais e o laudo psiquiátrico analisados descrevem a sequência de procedimentos adotados até a expedição da ordem de internação. No entanto, a documentação anexada não detalha tentativas formais de medidas alternativas à internação, nem comprova contato direto entre equipes de saúde e os responsáveis legais pelo paciente antes da determinação judicial.

Além disso, não foram apresentados, no material recebido, relatórios de vistoria recentes do Parque da Bica que atestem a conformidade das cercas e barreiras no local. Essa lacuna reforça a necessidade de que a administração municipal e a direção do parque prestem esclarecimentos públicos sobre inspeções e manutenções.

Limitações da apuração

É importante registrar que a matéria se baseia em documentos e relatos que foram encaminhados à redação. No momento da publicação, a reportagem não obteve declarações oficiais complementares da Justiça local, da Prefeitura de João Pessoa ou da administração do Parque da Bica.

Também foram consultadas bases públicas e portais oficiais, sem que se encontre, até a data da verificação, matérias públicas com detalhes idênticos aos documentos recebidos. Por essa razão, a reportagem privilegia a documentação encaminhada e recomenda a consulta direta aos autos judiciais para confirmação plena dos fatos.

O que especialistas recomendam

Profissionais ouvidos no material enfatizam a necessidade de protocolos integrados para manejo de pessoas em sofrimento mental. Entre as sugestões estão: identificação precoce de riscos, equipes de referência para acompanhamento domiciliar, articulação entre serviços de saúde e Judiciário e capacitação de agentes de intimação.

No que se refere à administração de parques, as recomendações incluem inspeções regulares, modernização de cercas, sinalização reforçada e rotinas de vigilância que impeçam o acesso de terceiros às áreas de animais.

Próximos passos e apelos

A partir das evidências analisadas, a reportagem recomenda que familiares e cidadãos exijam acesso aos autos do processo e que a prefeitura disponibilize laudos de vistoria e manutenção do Parque da Bica. Cabe também ao Judiciário local esclarecer como foi conduzida a tentativa de intimação e se houve alternativas avaliadas antes da internação.

Investigações formais por órgãos competentes, perícia técnica e eventual responsabilização administrativa e judicial serão necessárias para apurar falhas e indicar medidas corretivas.

Fontes

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