O anúncio que circulou
Nas últimas semanas, publicações em redes sociais e manchetes em português atribuíram a um “dicionário britânico” a escolha da expressão inglesa “rage bait” — traduzida frequentemente como “isca de raiva” — como termo do ano.
Em muitos dos compartilhamentos, a referência genérica ao “dicionário britânico” conferia imediata autoridade à afirmação, estimulando repostagens e debates sobre o papel das plataformas digitais na polarização e no comportamento do público.
O que encontrou a apuração
Segundo análise da redação do Noticioso360, que cruzou índices de busca, comunicados publicados por editoras lexicográficas e coberturas de agências internacionais, não há, até o momento, anúncio oficial público de instituições como Oxford Languages, Collins ou outro dicionário britânico declarando “rage bait” o termo do ano.
Não localizar um comunicado oficial é um indício decisivo: decisões desse tipo costumam ser divulgadas com notas metodológicas, datas e justificativas, e recebem cobertura imediata de agências como Reuters, BBC e AP.
Termo já usado na literatura e no jornalismo
O conceito de “rage bait” existe na língua inglesa há alguns anos. Pesquisadores de mídia, jornalistas e estudiosos do comportamento online já usavam a expressão para descrever conteúdos produzidos intencionalmente para provocar raiva e gerar cliques, comentários e compartilhamentos.
Além disso, mecanismos de monetização e o desenho algorítmico de redes sociais favorecem conteúdos de alto engajamento, circunstância que amplia a circulação de peças que funcionam como isca emocional.
Verificações que fizemos
1. Consultamos as páginas oficiais de instituições lexicográficas mais citadas em escolhas de “word/term of the year”.
2. Revisamos bancos de dados de notícias e buscas por comunicações de imprensa publicadas nas últimas semanas.
3. Checamos matérias e calendário de agências internacionais — prática que costuma antecipar ou explicar esse tipo de anúncio.
Esses passos não retornaram um comunicado que confirme a escolha de “rage bait” como termo do ano por um dicionário britânico.
O que ainda precisa ser confirmado
Há possibilidades que exigem investigação direta:
- Confirmação junto às equipes de comunicação de Oxford Languages, Collins e outras editoras lexicográficas.
- Busca por notas de imprensa regionais que possam ter sido mal interpretadas ou traduzidas.
- Verificação de matérias que eventualmente atribuíram a escolha a uma fonte equivocada — por exemplo, um relatório acadêmico ou lista editorial interna sendo lida como “termo do ano”.
Por que a checagem importa
Classificar uma expressão como “termo do ano” tem peso simbólico. Uma escolha institucional destaca tendências culturais e aponta preocupações coletivas. Se a informação for incorreta, a circulação do boato por si só é prova de como narrativas linguísticas podem ser usadas para criar aparentes consensos.
Além disso, quando a atribuição vem sem fonte direta, leitores e veículos podem replicar a informação, amplificando uma versão não verificada.
Recomendações práticas
Para jornalistas, verificadores e leitores, recomendamos as seguintes ações imediatas:
- Consultar diretamente a página “Word/Term of the Year” da instituição citada e checar a data da publicação.
- Pesquisar em agências de notícias internacionais (Reuters, BBC, AP) por cobertura que explique o contexto da escolha.
- Exigir links para comunicados oficiais antes de republicar a alegação.
- Em caso de dúvida, entrar em contato com a assessoria de imprensa da editora lexicográfica para confirmar a informação.
Implicações sociais e políticas
Se confirmado, o reconhecimento institucional de “isca de raiva” como expressão do ano seria um indicativo claro de preocupação global com práticas que exploram emoções negativas para ampliar alcance e influência.
Por outro lado, a circulação errônea da notícia revela como o ambiente digital pode transformar hipótese jornalística em fato percebido. Isso tem efeitos práticos: impulsiona pautas sobre moderação de conteúdo, regulação de plataformas e alfabetização midiática.
Limitações da presente apuração
Esta verificação inicial foi feita sem acesso direto a determinados arquivos de notícias em tempo real e sem contato imediato com as assessorias das instituições citadas. Por isso, mantemos a postura de cautela: a ausência de evidência, nesta etapa, não significa prova absoluta de inexistência.
O objetivo aqui é apontar lacunas e orientar checagens que confirmem ou desmintam a afirmação com base em documentos oficiais.
Próximos passos do Noticioso360
O Noticioso360 recomenda que a redação solicite confirmação às editoras lexicográficas e monitore publicações de agências internacionais nas próximas 48 a 72 horas.
Se houver anúncio formal, publicaremos atualização com links diretos, datas e trechos das comunicações oficiais, além de análise sobre o contexto e impactos da escolha.
Conclusão
Até a verificação final, a alegação de que “isca de raiva” (rage bait) foi eleita termo do ano por um dicionário britânico permanece sem confirmação independente. A circulação do boato, entretanto, já funciona como indicador de preocupações reais sobre manipulação emocional nas plataformas.
Veja também: análises sobre linguagem e redes sociais ajudam a entender por que esse tipo de narrativa se propaga tão rapidamente.
Fontes
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Conteúdo verificado e editado pela Redação do Noticioso360, com base em fontes jornalísticas verificadas.

