Relator e governo em choque por mudanças em regras de investigação
A deputada federal Gleisi Hoffmann qualificou nesta semana o sexto relatório apresentado pelo relator conhecido como Derrite como uma “lambança” que, na avaliação dela, enfraquece a Polícia Federal (PF) e dificulta o enfrentamento às facções criminosas. A orientação do governo à sua base, segundo a parlamentar, é votar contra o substitutivo e apoiar a versão originalmente enviada pelo Executivo.
Segundo apuração da redação do Noticioso360, com base em reportagens do G1 e da Agência Brasil, o conflito entre governo e relatoria se concentra em mudanças procedimentais e de competência investigativa que podem alterar pontos centrais da proposta original.
O que diz Gleisi e qual a posição do governo
Gleisi afirmou em pronunciamento que as alterações propostas por Derrite retiram ferramentas consideradas essenciais por autoridades policiais. “É uma lambança que fragiliza a atuação operacional da PF”, disse a deputada, em declaração pública citada por fontes do Congresso.
Por outro lado, interlocutores do relator defendem que o substitutivo busca equilibrar demandas por controle do poder estatal e salvaguarda de garantias constitucionais. Em notas de defesa do relatório, apoiadores afirmam que as mudanças visam delimitar competências e evitar abusos, sem reduzir a capacidade investigativa de órgãos de segurança.
Pontos de atrito no texto
Fontes parlamentares ouvidas pelo Noticioso360 identificaram três pontos de maior atrito:
- Mudanças nas regras de cooperação entre órgãos de investigação, que podem exigir novas formalidades para troca de informações.
- Ajustes nas competências para determinar medidas cautelares, com potencial impacto sobre quem pode autorizar interceptações e buscas.
- Redações ambíguas que, segundo críticos, podem ser interpretadas como limitações à atuação operacional da PF.
Alguns técnicos consultados pelas reportagens citadas sustentam que o alcance prático dessas mudanças depende de definições posteriores do Judiciário e de regulamentos complementares. Outros, mais críticos, afirmam que a redação do substitutivo já transforma a arquitetura legal de medidas investigativas.
Impactos práticos e jurídicos
Especialistas em direito penal ouvidos nas matérias indicam que alterações em prazos, competências e formas de cooperação costumam ter efeitos práticos apenas quando detalhadas em normas secundárias. Ainda assim, ressaltam que a formulação do texto legal é decisiva para orientar decisões administrativas e judiciais.
“A redação define parâmetros interpretativos”, disse um especialista ouvido em reportagens do G1, lembrando que mudanças aparentemente técnicas podem influenciar rotinas de investigação e estratégias judiciais. Por isso, parlamentares favoráveis à restauração da versão do Executivo afirmam que é preciso preservar instrumentos táticos usados na repressão a organizações criminosas.
Reação no Congresso e estratégia do governo
De acordo com fontes no Planalto ouvidas pelo Noticioso360, a orientação para que a base vote contra o substitutivo atende a duas frentes: impedir que a Câmara aprove alterações consideradas danosas e preservar a possibilidade de recuperar trechos no Senado. A movimentação indica que ainda há margem para negociação e apresentação de emendas.
Parlamentares aliados ao relator, por sua vez, defendem que o texto corrige excessos e acrescenta salvaguardas institucionais. A disputa, portanto, mistura argumentos técnicos com estratégia política por maioria na tramitação.
Escopo da apuração e divergências de versão
Ao confrontar as versões disponíveis, a redação do Noticioso360 verificou que a expressão usada por Gleisi — “lambança” — sintetiza a posição governista e de aliados críticos ao substitutivo. Documentos do relator e notas de defesa do substitutivo, por outro lado, enfatizam aperfeiçoamentos legais e correções de redação.
Fontes consultadas destacam que a divergência entre juízos técnicos e avaliações políticas é comum em propostas de reforma normativa sensíveis à segurança pública. Enquanto alguns órgãos veem riscos práticos imediatos, outros apontam apenas ajustes de interpretação que poderão ser dirimidos pela Justiça.
O que está em jogo para a Polícia Federal
A PF é a principal instituição potencialmente afetada pelas mudanças. Oficiais ouvidos em reportagens apontaram preocupação com restrições que dificultem investigações complexas contra organizações criminosas com atuação transnacional e ramificações econômicas.
Fontes da corporação afirmam que instrumentos como cooperação entre delegacias, compartilhamento de informações e competências para medidas cautelares são fundamentais para operações que envolvem inteligência e ações simultâneas em vários estados.
Próximos passos e possibilidades de ajuste
O desfecho do impasse depende do texto que for aprovado em plenário e de eventuais negociações no Senado. O governo pretende trabalhar em destaque e emendas para recuperar partes da proposta original, enquanto o relator e seus apoiadores podem manter pontos considerados essenciais para o equilíbrio entre garantias individuais e eficiência investigativa.
Caso o substitutivo seja aprovado, especialistas alertam que o efeito concreto será sentido apenas após regulamentações e decisões judiciais que interpretem as novas redações.

